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4 de jul. de 2011

Confabulando com fábulas


Projeto didático


Na história da humanidade as diferentes organizações da sociedade sempre se constituíram a partir de uma determinada visão de mundo, que estabeleceram e continuam estabelecendo padrões de conduta, normas ou regras de bem viver em sociedade, orientadas por diferentes valores morais e éticos. Em outras palavras, em qualquer tempo da história do homem é possível observar o que determinada sociedade preza como uma conduta correta ou não, que estabelece limites entre o certo e o errado, o adequado e o inadequado, o desejável e o indesejável no caráter humano.

A literatura, como parte da nossa cultura, é uma importante fonte para a observação de muitos valores sociais e a fábula, como uma das mais primárias formas de literatura, pode se tornar um rico material de estudo desses valores.

Entretanto, para além da característica moralizante que tradicionalmente é enfatizada na fábula, esta também deve ser percebida em seu valor estético; nos recursos expressivos com os quais e sobre os quais se produzem os sentidos de cada história.

Um estudo da fábula no tempo, procurando entender a sua evolução histórica contribui para o ensino da língua porque favorece o trabalho com:

A linguagem oral: por meio de leituras expressivas e de discussões sobre o conteúdo das fábulas (validade da moral atualmente etc.);

A leitura: por meio das discussões sobre os valores morais, suscitadas pelo conteúdo temático do gênero, que possibilitam a exploração de capacidades de leitura mais complexas com questões que exigem análise lingüística e apreciações éticas e políticas sobre os textos em questão, como produtos de um tempo e de uma sociedade (análise lingüístico-discursiva);

A escrita: articulada com as atividades de leitura que abordam as características constitutivas da fábula, é possível contar com uma base de orientação para a produção de textos pelo aluno, ou seja, com as discussões feitas sobre como o fabulista constrói o seu texto, que recursos usa, quais as finalidades do texto etc, o aluno pode construir uma referência sobre o que é necessário, sobre o que é preciso garantir em seu texto para produzir uma fábula.


Confabulando através dos tempos


Considerações sobre o gênero


Neste trabalho, optamos por abordar a fábula, enfatizando algumas questões de produção, que possibilitam um olhar renovado sobre o gênero, muito mais como um objeto estético que pode ser apreciado pelo aluno, do que como um texto didático-moralizante.

Isto quer dizer que a fábula será estudada por meio da observação de seus recursos expressivos, analisando como são construídos os efeitos de sentido e como eles podem ser percebidos por nós.

Atualmente, podemos encontrar a fábula definida como uma narrativa concisa, escrita em prosa ou em verso, que predominantemente apresenta animais como personagens, podendo também ter outros seres, objetos inanimados ou homens em seu enredo, marcada pela presença implícita ou explícita de uma moral, um ensinamento ou uma crítica.

Na história da fábula, no ocidente, Esopo (século VI a.C) teria sido o maior divulgador do estilo panfleto político, instrumento de publicidade das normas sociais (do certo e do errado, do adequado e do inadequado na vida em sociedade).

Um olhar mais estético sobre o gênero começou com a inovação introduzida por Fedro e radicalizada por La Fontaine que resgataram as fábulas de Esopo recriando-as em versos. Esta modificação exigiu a incorporação de elementos da poética aproximando a fábula da arte literária.


Caio Júlio Fedro ou Gaius Julius Phaedrus: escritor latino que viveu de 15 a.C a 50. Recolheu, reescreveu e adaptou as fábulas atribuídas a Esopo à versificação latina.

Jean de La Fontaine: viveu no século 17 (1621-1695). Resgatou as fábulas do grego Esopo (século VI a. C.) e do romano Fedro (século I d. C.). Considerado um dos mais importantes escritores da França é conhecido por modernizar as fábulas o frescor da poesia, imprimindo-lhes ritmo e ironia.


Este novo caminho da fábula provocou mudanças em sua forma composicional (de narrativa em prosa para narrativa em verso) alterou, necessariamente, o modo de dizer (o estilo – os recursos expressivos utilizados) que, por sua vez, também provocou alterações em seu conteúdo temático (o que se pode dizer em uma fábula). Para os defensores da finalidade essencialmente didática da fábula, esta modificação teria alterado a sua alma, descaracterizando o seu conteúdo em detrimento da forma.

Ou seja, inovar na forma, teria provocado um deslocamento da atenção, da valorização do conteúdo (didático, moralizante) para a valorização dos procedimentos artísticos na apresentação deste conteúdo: passou-se a investir mais na descrição das personagens e da própria situação (uso de palavras que qualificam e, portanto, apresentam apreciações de valor); a moral passou a ser entendida como parte constitutiva da fábula, tornando-se mais um recurso expressivo na produção do sentido desejado (humor, crítica, ironia...).

A valorização dos procedimentos artísticos acrescentou um valor estético ao conteúdo didático e revestiu a fábula de uma dupla finalidade: divulgar um ensinamento moral ou uma crítica e ser apreciada como um objeto estético.

Atualmente, podemos perceber o uso de recursos expressivos da poesia nas novas versões das fábulas em prosa de Esopo e nas traduções ou adaptações das fábulas de La Fontaine (de versos para prosa).

Passam a constituir estas novas versões recursos como:

A rima (mesmo em prosa);

O uso de comparações e metáforas na descrição das personagens;

O uso de paradoxos, antíteses ou inversões de valores na construção da ironia ou do humor, geralmente presente na construção de uma nova versão da moral que propõe novos valores, considerando o contexto sócio-histórico atual.

Exemplos deste tipo poderão ser observados especialmente nas fábulas mais contemporâneas, como em A causa da Chuva, fábula de Millôr Fernandes que pode ser conferida na atividade 2B.

Em função destas inovações os teóricos da fábula costumam dividir a sua história em dois momentos históricos: antes e depois de La Fontaine.

Neste trabalho, considerando o público a que se destina, o objetivo é favorecer a prática da leitura de fábulas, focando a atenção para as suas diferentes formas de apresentação e os diferentes sentidos construídos nas diferentes versões com as quais terão contato.

Deste modo, as atividades aqui apresentadas focarão o caráter estético do gênero, priorizando a observação e análise dos recursos lingüísticos na construção do discurso da fábula.

A seguir, apresentamos um quadro que visa sintetizar e sistematizar algumas características recorrentes deste gênero – comentadas ao longo desta introdução –, que marcam o seu conteúdo temático (o que é possível ser dito em uma fábula), a sua forma composicional (como se organiza o texto) e o seu estilo (quais os recursos da língua usados para se dizer).

Cabe destacar que a separação destes elementos constitutivos do gênero tem finalidade didática e, como já foi observado e será confirmado pelas informações no quadro, não é possível isolá-los completamente visto que estes elementos interagem, dialogam entre em si e confluem para a construção do que chamamos de fábula.

CONTEÚDO TEMÁTICO: A fábula apresenta um conteúdo didático-moralista que veicula valores éticos, políticos, religiosos ou sociais. Este conteúdo pode vir organizado de modo a enfocar o discurso moralista – mais comum nas fábulas em prosa, clássicas – ou pode assumir um valor mais estético, com uma linguagem mais metafórica e a presença de descrições mais apreciativas que investem na constituição mais poética das personagens e da ação narrativa. Neste caso, o desfecho é, em geral, surpreendente, humorístico ou impactante.

Em prosa ou verso, as fábulas se organizam como uma narrativa concisa: há uma ação que se desenvolve por meio do estabelecimento de um conflito, em geral, de natureza competitiva ou exemplar.
FORMA COMPOSIOCIONAL: A ação da fábula, em geral, é episódica, constitui-se como um episódio do cotidiano da vida das personagens. Daí o tempo e o espaço não serem, em geral, situados, a não ser que contribuam para o desenvolvimento da ação. A moral, nas fábulas mais clássicas, entendida como a sua essência, aparece como o objetivo verdadeiro e final da fábula. Por esta razão, em geral, aparece explícita, evidente, no final do texto. Já nas fábulas em versos, houve uma transgressão deste princípio: a moral passou a constituir-se como parte do procedimento artístico na construção da fábula, podendo não aparecer explicitada, aparecer incorporada na fala das personagens ou, ainda, como introdução da narrativa.
ESTILO: A voz que fala ou canta (3ª pessoa): tanto nas versões mais clássicas das fábulas em prosa de Esopo, quanto em versões mais atuais e em versos, a voz que conta ou ‘canta’ assume, normalmente, a voz da sociedade. Daí a narração em 3ª pessoa, que distancia, impessoaliza o narrador. Nas versões mais modernas (versos de La Fontaine ou prosas mais atuais) esta voz assume um caráter mais individual e contestador de valores sociais ou comportamentos humanos: dialogam e contrapõem-se à voz autoritária e monolítica das fábulas clássicas. Ao assumir esta voz mais individual, com certa freqüência se coloca pessoalmente na fábula, fazendo o uso da 1ª pessoa: … que eu não estou falando senão a verdade. A escolha das personagens da fábula tem relação direta com o seu potencial de colaboração para o desenvolvimento da ação narrativa. Ou seja, os animais ou outros seres são escolhidos em função de alguma característica específica (ágil, lento, ligeiro, pesado, leve, belo, feio...), de algum traço, um certo caráter da sua ação (manso, feroz, traiçoeiro, forte, frágil, desprotegido, perigoso, inofensivo...) que contribua para o estabelecimento de um conflito a partir do qual se desenvolva a história. Cabe ressaltar que a preferência pelo uso de animais e outros seres animados ou inanimados como personagens trazem um colorido à narrativa porque ilustram, personificam caracteres, de modo que podem ser facilmente substituídos por seres humanos.

O que se espera que os alunos aprendam:


Reconhecer as fábulas como um produto da cultura humana que influencia e é influenciada pelos valores sociais, políticos, éticos e religiosos de um determinado tempo, na história de uma determinada sociedade;

Fazer uso – na leitura e na produção de fábulas – dos recursos lingüísticos- discursivos próprios do gênero;

Fazer uso de estratégias e capacidades de leitura para construir sentidos sobre as fábulas lidas. Isto envolve:

    • Fazer inferências sobre informações das fábulas considerando o contexto em que foram produzidas

    • Fazer apreciações éticas e políticas sobre o conteúdo moralizante das fábulas

    • Comparar diferentes fábulas observando e relacionando os diferentes sentidos produzidos pelo uso dos recursos da linguagem;

Fazer uso de procedimentos de produção de texto na recriação – oral ou escrita – das fábulas. Isto envolve:

    • Apropriar-se de procedimentos da escrita, tais como o planejamento, a escrita e a revisão da fábula, tendo em vista critérios previamente discutidos;

    • Colocar em diálogo diferentes versões de fábulas para recriá-las ou criar outras, a partir da análise dos argumentos ou da moral previamente apresentados;


Colocar em diálogo diferentes versões de fábulas para recriá-las ou criar outras, a partir da análise dos argumentos ou da moral previamente apresentados;

Fazer uso dos recursos linguísticos e estilísticos próprios da fábula, explorados durante a leitura e também durante a revisão coletiva de produções, para a produção de outras fábulas.


Produto final


O objetivo final do projeto é a produção de fábulas inéditas. Estas serão divulgadas no blog da escola para serem lidas por outros alunos e quaisquer outras pessoas que o acessem.


Bibliografia:

♦ Guia de planejamento e orientações didáticas para o professor do 3o ano do Ciclo 1 / Secretaria Municipal de Educação. – São Paulo : SME / DOT, 2008.


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